terça-feira, 13 de março de 2018

Organizações do movimento socioambiental reagem ao desmonte do Licenciamento Ambiental e pronunciamento do presidente da Câmara dos Deputados.


Nota pública, assinada por 46 organizações representativas do movimento socioambiental, demonstra indignação após divulgação do Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, afirmando que o PL 3.729/2004 pode ser votado ainda este mês, pois as resistências dos ambientalistas em relação ao projeto haviam diminuído e já teria acordo entre ambientalistas e representantes do agronegócio.

O projeto sendo votado da forma como está trará grande retrocesso à legislação ambiental, considerada uma das mais modernas do mundo. Segundo a nota pública, o projeto dispensa de licenciamento ambiental as atividades agropecuárias, independente de seu impacto; cria licenciamento autodeclaratório e flexibiliza as exigências ambientais, deixando na mão de Estados e Municípios a decisão sobre o grau de rigor da licença ambiental.

Leia íntegra da nota pública.



Que acordo foi esse?

"Recebemos com grande perplexidade o anúncio feito pelo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de que o Projeto de Lei que trata do licenciamento ambiental no Brasil (PL 3.729/2004) já teria acordo entre ambientalistas e representantes do agronegócio para ser votado e que as resistências dos ambientalistas em relação ao projeto haviam diminuído. NÃO RECONHECEMOS ACORDO ALGUM! 

Até o presente momento, o texto do PL proposto pela bancada ruralista e outros setores que desejam mudar as regras de licenciamento ambiental do país deixa o meio ambiente vulnerável ao recomendar a dispensa de licenciamento para atividades agropecuárias a qualquer título e independentemente de seu impacto; ao criar o licenciamento autodeclaratório e flexibilizar as exigências ambientais; ao deixar inteiramente na mão de Estados e municípios a decisão sobre o grau de rigor da licença ambiental -- que pode ser nenhum se prefeitos e governadores assim entenderem; e ao retirar a obrigatoriedade da consulta a populações potencialmente atingidas -- uma clara violação aos direitos de povos indígenas e de comunidades locais, além de representar ameaças a áreas protegidas.

O propagado (e fictício) acordo apenas presta-se a criar um falso ambiente de entendimentos, que resultará no desmonte da política de licenciamento brasileiro pelo Congresso, exatamente no momento em que o país assiste perplexo ao vazamento tóxico de rejeitos da empresa Hydro Alunorte, em Barcarena, no Pará. Caso aprovada a proposta na forma como se encontra, esta e outras tragédias, como o rompimento da barragem em Mariana, em Minas, ficariam mais propensas a ocorrer, atingindo de forma ainda mais brutal as populações locais. 

Ao repassar aos Estados a possibilidade de fazerem suas próprias regras de licenciamento, o projeto ainda induz o país a uma verdadeira guerra fiscal ambiental, com entes federativos afrouxando regras para atrair empreendimentos. Tal medida, inconstitucional, traria reflexos negativos no ambiente de investimentos e nos custos de crédito. Em vez de produzir a almejada segurança jurídica, o texto transforma todo empreendedor num alvo potencial de ação na Justiça. Vale lembrar que o Ministério Público Federal já se manifestou publicamente contrário a esse P L.

Em setembro do ano passado, ao receber uma comitiva de artistas, indígenas e ambientalistas, Rodrigo Maia garantiu que o licenciamento só seria colocado em pauta após debate e acordo em relação ao tema, o que ainda não ocorreu.

Apesar da evidente complexidade e relevância do tema, o deputado Mauro Pereira, relator do polêmico substitutivo ao projeto de licenciamento, tem se negado a promover e participar de debates públicos para a melhoria do texto, o que resulta na atual situação de completa polarização e falta de consenso sobre a referida proposição. A falta de diálogo ignora pedidos expressos de diversos setores, como Ministério Público Federal, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, organizações da sociedade civil, associações de servidores de órgãos ambientais e associações de municípios. Consideramos inaceitável que, após tantos apelos, o importante projeto de lei em questão, que versa sobre o patrimônio de toda a sociedade brasileira, seja votado no plenário da Câmara dos Deputados sem a realização de quaisquer debates públicos.

Exigimos que os órgãos técnicos, a comunidade científica, as comissões ambientais, as populações atingidas e a sociedade em geral sejam ouvidos. Esperamos que o deputado Rodrigo Maia seja o mediador de um real entendimento acerca das mudanças nas regras do licenciamento ambiental no Brasil e não permita que, sob a premissa de um entendimento desejado, mas infelizmente ainda inexistente, seja votado um texto em que o interesse econômico imediato de uma minoria -- como a bancada ruralista -- novamente prevaleça sobre os de todo o país." 

Assinam: 

ABRAMPA - Associação Brasileira dos do Ministério Público de Meio Ambiente 
Amigos da Terra/Amazônia Brasileira 
APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Apremavi - Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida
ARTIGO 19
ASCEMA Nacional - Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA
ASIBAMA/DF - Associação dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA 
BVRio 
CEDAC - Centro de Ação Comunitária 
CI - Conservação Internacional Brasil 
CONECTAS Direitos Humanos 
FAOR - Fórum da Amazônia Oriental 
FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional 
FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
Fundación Avina
Greenpeace Brasil 
GT Infraestrutura 
IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
ICV - Instituto Centro de Vida
IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 
IDESAM - Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia
IDPV - Instituto o Direito por um Planeta Verde 
IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil
Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
Imaflora - Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos 
Iniciativa Verde
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social 
International Rivers - Brasil 
ISA - Instituto Socioambiental
Marcha Mundial do Clima
Ministério Público Federal - Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão – PFDC
Ministério Público Federal - 4.ª Câmara de Coordenação e Revisão sobre Meio Ambiente e Patrimônio Cultural 
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais 
Observatório do Clima
OPAN - Operação Amazônia Nativa
PSA - Projeto Saúde e Alegria
RCA - Rede de Cooperação Amazônica
Rede ODS Brasil 
Slow Food Brasil
SOS AMAZÔNIA 
SOS Mata Atlântica


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Ajudando na proteção do meio ambiente




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Pensar que as queimadas acabaram é mera suposição porque, ainda que minimizadas, as queimadas não cessaram em diversos estados do Brasil.  N...